Análise e ComentárioFutebol

Amor ao Clube: Um Sentimento que precisa ser Resgatado.

Toda criança já teve em algum momento de sua vida, o sonho de ser um jogador de Futebol Profissional. Sonho esse, geralmente despertado por algum grande ídolo, no qual a criança passa a seguir e se espelhar!

Jamais irei esquecer dos ídolos da minha infância, cuja camisa que vestiam era a do meu amado “Santos Futebol clube”!

Quem não gosta de futebol e nunca foi torcedor, jamais conseguirá entender o que é essa Paixão!

O que é esse sentimento que faz homens adultos, chorarem como criança na conquista de um Título, ou na dor de um “Rebaixamento”, dor essa que por ser “Santista”, graças a Deus nunca precisei chorar!

Lembro como se fosse hoje, da primeira camisa do Santos que ganhei do meu amado Pai.

Quem disse que eu queria tira-la do corpo?

Desfilava todo orgulhoso com minha camisa do Santos, calçando meu inseparável “Kichute”.

Para os mais novos que não são daquela época, década de 70, 80, Kichute era um tênis preto com travas de borracha no solado, que simulavam uma espécie de chuteira!

Não havia um único garoto que sonhasse em ser jogador de futebol, que não tivesse um “Kichute” para jogar bola!

Talvez eu esteja um pouco mais saudosista do que o normal, porque na última terça-feira (17), no Programa “Papo de Bola”, programa que faço na Rádio da Vila, ao lado do amigo Rodrigo Zang Galvão, recebi um ídolo desta minha época de infância, o atacante Juary!

Juary que esteve no programa com o também amigo Rubéns Guaraná, contou histórias de um tempo romântico e que deixou saudades de um futebol mais verdadeiro!

Mas porque é que estou mencionando tudo isso?

Estou mencionando esses fatos, pois dentre alguns assuntos que abordamos no programa, a falta de identidade que nos entristece demais nos dias de hoje, e atinge torcedores e também jogadores, foi destaque!

Tenho 52 anos de idade, portanto não me considero muito velho, e lembro que na minha época de moleque, nosso orgulho era disputar as famosas peladas de rua, vestindo a camisa do nosso time! Santos, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, e as vezes alguma camisa diferente quanto um dos garotos tinha vindo de outro estado!

Camisas de um Real Madrid, Manchester United, Milan, Barcelona, Bayern de Munique, Internazionale e etc… acho que era coisa que só colecionador tinha! Não se via garotos na rua, jogando bola ou apenas vestindo uma camisa dessas! Nosso sonho era jogar no nosso time do coração!

Época em que só um time, cabia no nosso coração!   

Juary nos contava, do amor e do orgulho que aquela primeira geração dos “Meninos da Vila”, apelidada de “Futebol Discoteca”, sentia em jogar pelo Santos e em vestir aquela camisa!

A molecada era unida e passava perrengue junto! Dormiam nos alojamentos embaixo das arquibancadas! Quando chovia, era goteira para todo lado! No verão, dormir ali era insuportável.

Dia de Domingo tinha o almoço, e a molecada só iria comer outra vez, somente no café da manhã de Segunda-feira! E com tudo isso, todas as dificuldades pelas quais passavam, eram felizes só por vestir a camisa do Santos!

Havia amor pelo Clube! Havia identidade não só com a instituição “Santos Futebol Clube”, mas com a torcida também!

Eram tempos em que o torcedor Santista lotava a Vila Belmiro para acompanhar os treinos, e cobrava os jogadores! Existia um contato direto entre os jogadores e a cidade!

No dia seguinte de uma partida, o jogador ia comprar seu jornal na Banca, e o Jornaleiro lhe conhecia!

Dependendo do resultado, elogiava ou cobrava! E assim acontecia no açougue, na padaria, no ponto de táxi e etc..

“Éramos uma família” Disse Juary!

E não era somente dentro de campo não! Existia amizade fora das quatro linhas.

Hoje não existe mais time, mas apenas um aglomerado de individualidades vaidosas.

Jogadores que não curtem mais uma resenha, jogar um baralhinho na concentração, hoje ficam cada um com seu fone grudado na orelha e com os olhos na telinha do celular!

A Preocupação é com a cor da chuteira, o topete do cabelo, as tatuagens novas e etc…

No dia 28 de junho, há menos de dois meses, o Santos comemorou 40 anos da conquista do Campeonato Paulista, vencido em 1978 pela primeira geração dos “Meninos da Vila”

Para comemorar a data, os jogadores que fizeram parte daquela conquista, estiveram reunidos em um evento que contou com as presenças dos ídolos Juary, Ailton Lira, Washington, Gilberto Sorriso, Pita, Fernando, Toninho Silva, Nilton Batata e outros.  

A emoção foi forte e não houve como conter as lágrimas, principalmente em relação ao reencontro dos amigos Juary e Nilton Batata, que mora nos Estados Unidos, e desde aquela época não se encontraram mais!

Hoje na atual geração, quem preserva o amor à camisa, o faz por motivos históricos ou sentimentais. Não há recheio humano nos uniformes.

O Amor ao clube acabou!

Garotos da base, meninos que ainda não conquistaram nada dentro do futebol, garotos que nem chegaram sequer a vestir a camisa profissional do clube onde jogam, se perguntados a respeito de qual seria seu maior sonho, respondem quase que automaticamente: “Jogar na Europa”

Mas o que aconteceu para ocorrer tal mudança?

Por que é que jogadores e torcedores da geração atual, não sentem mais esse orgulho e esse amor em vestir a camisa não só do Santos mas como de outros clubes Brasileiros? Porque tanta idolatria com clubes que financeiramente podem ser milionários, mas não tem um terço dos títulos e da história que o Santos tem no futebol Mundial?

Me apontem um clube desses famosos da Europa, que tenha jogado e Goleado Seleções de Países do mundo inteiro, como o Santos cansou de golear! E golear dando Show!

No Santos essa falta de identidade que vemos hoje, isso até se justifica né? Afinal, elegemos um Presidente que tem vergonha da Vila Belmiro a qual chama de “Puxadinho”

Um Presidente que dirige um Clube que é de Santos, lá de uma Subsede na Capital Paulista.

Se como diz o ditado: “O Exemplo vem de cima”, como cobrar dos nossos jogadores, qualquer identidade ou identificação com um clube que para eles, virou apenas “Trampolim” para o sonho Europeu?  

O resultado disso está presente na própria escolha dos jogadores da Seleção.

Quase todos jogam fora do Brasil. Para quem não costuma acompanhar ligas e torneios internacionais, são na maioria, ilustres desconhecidos.

Os Clubes Brasileiros precisam ter outra postura frente a essa questão!

É preciso resgatar esse sentimento de orgulho que Juary, Pita, João Paulo, Joãozinho, Nilton Batata, e tantos e tantos outros “Meninos da Vila”, sentiam ao vestir nosso Manto! Não digo que seja errado querer um dia, ir jogar na Europa, mas o sonho tem que voltar a ser o de primeiro, vestir a camisa de um grande clube no Brasil, e aí depois sim pensar em ir embora!

foto: Divulgação/Corpo em Ação/TV Tribuna)

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